Texto publicado no Diário do Sudoeste em setembro de 2017.
Logo que fui seduzido pela música e pelo rock n’ roll, ainda pré adolescente, me apaixonei pela obra dos Beatles. E meu interesse só cresceu, e continua crescendo, desde então. Sempre gostei de provocar as pessoas que me perguntam qual é a minha banda favorita. Invariavelmente respondo que é o Pearl Jam. Aí, a pessoa diz, nossa, achei que era os Beatles, você tem tanta coisa e fala tanto sobre eles… É quando eu respondo triunfante: É que Beatles para mim é mais que uma banda: é religião. Portanto, hoje pisaremos em solo sagrado e vocês terão um texto muito pessoal onde falaremos de Beatles, religiosidade e um dos mais inventivos guitarristas da história.
George Harrison: Vivendo no Mundo Materialista (título original: George Harrison: Living in the Material World) foi lançado em 2011, escrito e dirigido por Martin Scorsese. Trata-se de um documentário que se presta a revelar a personalidade do “beatle quieto” através de imagens raras do acervo pessoal do guitarrista e também de entrevistas de personalidades como Paul McCartney, Eric Clapton, Ringo Starr, Phil Spector e muitos outros.
Faz parte do DNA de todos os filmes de Martin Scorsese uma trilha sonora marcante, sempre com grandes canções do rock n’ roll e do blues. Scorsese tem muita intimidade com a música e em documentários, já tendo feito os ótimos Shine a Light (2008), sobre a obra dos Rolling Stones e No Direction Home (2005) sobre a trajetória de Bob Dylan. Neste documentário sobre George Harrison, Scorsese, consciente da complexidade do seu biografado, divide o filme em duas partes e conduz muito bem toda a trajetória de Harrison, sempre ressaltando sua personalidade forte e sua busca pela espiritualidade. O longa é muito bem conduzido, seguindo a cronologia e nos entregando muitas imagens deslumbrantes ao longo do caminho. Tecnicamente, é um filme impecável.
O filme tem três horas e meia de duração. Mas é o caso de não parecer. Não se percebe o tempo passar. A história de George é tão interessante e cheia de camadas, os depoimentos de seus amigos e familiares são tão estimulantes e emocionais, e são tantas canções maravilhosas que permeiam todo o longa, que essas três horas e meia parecem voar. Mesmo para quem já é bem iniciado na história dos Beatles e de seus integrantes separadamente, este filme acrescenta muito. Nos apresenta um homem de um talento descomunal que conseguiu viver entre dois mundos distintos, quase que fazendo com que um completasse o outro. Um homem que compreendia as pessoas de uma maneira muito mais direta e que podia ser, ao mesmo tempo, muito terno e amável e rispidamente sincero. Claro e escuro. Introspectivo e bem humorado. Yin e yang. Tudo sempre se conectando através da música.
George Harrison: Vivendo no Mundo Material é um mistério místico que vale muito a pena ser desvendado. Uma avalanche de música e sabedoria. Sim, sabedoria. É uma obra primorosa de um dos maiores cineastas do mundo, falando sobre um dos artistas mais complexos e talentosos de todos os tempos. Exagero?
Pague para ver! Filme recomendadíssimo!
ps: Meu beatle favorito é o Paul.